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Agenda da Academia

sábado, 22 de outubro de 2022

Biblioteca – “Manifesto antropófago”, de Oswald de Andrade

 

 


Nesta data de 22 de outubro, no ano de 1890, nascia, em São Paulo, o escritor José Oswald de Sousa de Andrade, que se destacaria no movimento modernista brasileiro. Além dos manifestos, ele escreveu poemas, romances, peças teatrais e outros textos.
Para conhecer um pouco mais desse grande escritor brasileiro, acesse:
https://www.ebiografia.com/oswald_andrade/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Oswald_de_Andrade

Em 1928, Oswald de Andrade leu o “Manifesto antropófago” para seus amigos, na casa de Mário de Andrade. O texto foi publicado na Revista de Antropofagia, ainda em 1928. Para lembrar e celebrar o aniversário de Oswald, reproduzimos aqui o fac-símile do Manifesto.

Jorge Domingues Lopes





quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Biblioteca - Poesia “O adormecido do vale”, de Arthur Rimbaud

 

Jean-Nicolas Arthur Rimbaud nasceu no dia 20 de Outubro de 1854, em Charleville, França, e faleceu aos 37 anos, no dia 10 de Novembro de 1891, em Marseille, França. Poeta simbolista, tornou-se um dos nomes mais conhecidos da literatura francesa e mundial.
Suas principais obras são: Le Bateau ivre (1871), Une saison en enfer (1873) e Illuminations (1872-1875). Para saber mais sobre Rimbaud, acesse:

https://musee-arthurrimbaud.fr
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Rimbaud

No Brasil, comemora-se no dia 20 de Outubro o DIA DO POETA. É mera coincidência de datas essa comemoração e o dia de nascimento do poeta francês Arthur Rimbaud.

Então, para celebrarmos esses dois acontecimentos, trago um dos poemas mais conhecidos de Rimbaud, Le dormeur du val, publicado originalmente no quarto volume da Anthologie des poètes français, em 1888, seguido da tradução que fiz (mais literal que poética) para o português. Boa leitura!

Jorge Domingues Lopes

 

 LE DORMEUR DU VAL

C’est un trou de verdure où chante une rivière,
Accrochant follement aux herbes des haillons
D’argent ; où le soleil, de la montagne fière,
Luit : c’est un petit val qui mousse de rayons.

Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue,
Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
Dort ; il est étendu dans l’herbe, sous la nue,
Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.

Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme
Sourirait un enfant malade, il fait un somme :
Nature, berce-le chaudement : il a froid.

Les parfums ne font pas frissonner sa narine ;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine,
Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.



O ADORMECIDO DO VALE

É um buraco de verdura onde canta um rio,
Loucamente prendendo à relva trapos
De prata; onde o sol, da montanha orgulhosa,
Brilha: é um pequeno vale a espumar luzes.

Um jovem soldado, boca aberta, fronte nua,
E a nuca banhando no fresco agrião azul,
Dorme; ele está estendido na relva, sob o céu,
Pálido em sua cama verde onde chove a luz.

Os pés nas flores, ele dorme. Sorrindo como
Sorriria uma criança doente, ele tira um cochilo:
Natureza, embala-o calorosamente: ele tem frio.

Os perfumes não irritam sua narina;
Ele dorme ao sol, com a mão sobre o peito,
Tranquilo. Ele tem dois buracos vermelhos ao lado direito.


 

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Biblioteca - Poema “Dezenove de Outubro”, de Santa Helena Magno

 


 

O poeta marajoara Carlos Hipólito de Santa Helena Magno nasceu em Muaná (PA), em 3 de agosto de 1847 e faleceu em 20 de outubro de 1882. Ele foi advogado, professor de geografia no Liceu Paraense e poeta. Publicou o livro Harpejos poéticos (1869) e também publicou alguns poemas no jornal Diário de Belém. Em 1974, o Conselho Estadual de Cultura do Estado do Pará publicou os livros Ondas sonoras: versos (inédito) e Arpejos poéticos: poesias (2.ª edição).

Par saber mais sobre ele, acesse:
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=14366

Para lembrar dos 140 anos da partida desse estimado poeta paraense-marajoara, selecionamos um de seus poemas publicado na obra póstuma Ondas sonoras.

Boa leitura!

Jorge Domingues Lopes

 

DEZENOVE DE OUTUBRO

 

[Ao colocar-se a lápide comemorativa, do lugar onde foi preso o insigne patriota João Batista Gonçalves Campos — 1878].

 

No altar da pátria mais um círio esplende!

Tarde, mas belo preito, hoje rende

            A glória de um herói:

Abramos, pois, as páginas da história

E a mocidade, que seduz a glória,

            Mostramo-lo qual foi.

 

E era já tempo! a lousa que o guardava

O feudo, há meio século, esperava

            Da nossa gratidão;

E enquanto a história o busto lhe escupia,

Aqui passava indiferente e fria

            A nova geração!

 

Era já tempo! — as tradições brilhantes

Da Independência, e os feitos mais pujantes

            Dos ínclitos avós.

Tudo no olvido rui, tudo se apaga,

E das paixões a marulhosa vaga

            Imerge a todos nós!

 

Aonde a prole dos homérios vultos

Que com o sangue das veias deram cultos

            À liberdade e à glória?

Quando na noite do passado os vemos

Colossais alvejarem quase os cremos

            Mastodontes da história!

 

Ah! rasguemos o crepe funerário

Que a nossos olhos vela o santuário

            Desta pátria gentil,

E acima da caligem da poeira

Que os partidos levantam, a bandeira

            Ergamos do Brasil!

 

Soprai as cinzas, despertai de novo

A moribunda luz n’alma do povo

            Que dormita a sonhar;

E então vereis — cadáver redivivo —

Das belas crenças um clarão mais vivo

            A fronte lhe banhar!

 

Era em Setembro... do Ipiranga o brado

Pelos vales do sul tinha ecoado

            Desde o campo à cidade;

Ébrio de gozo um povo estremecia

E as algemas dos pulsos sacudia

            Saudando a liberdade!

 

Como os de Cadmo fabulosos dentes,

O sangue do famoso Tiradentes

            Brotava legiões;

Sorrindo o moço — Império despertava

Do sono de três séculos, — e tomava

            Lugar entre as nações.

 

Entretanto aqui nas margens do Amazonas,

Nestas soberbas, bem-fadadas zonas

            Medrava a tirania;

E, como a boa nos potentes laços

Aperta a caça, — nos seus férreos braços

            Ela o povo premia!

 

Ora, a Imprensa era o sopro onipotente

Que o novo gérmen, que a centelha ardente

            Ia ao longe levar;

Era açoite do crime e da maldade;

Era o fanal da doce liberdade

            Que convinha apagar!

 

E Patroni caiu... calcado à pata

Do despotismo atroz, que lhe arrebata

            Das mãos a pena ousada!

Baldado esforço! os ferros e o martírio

Acendem n’alma a febre do delírio

            Pela ideia esposada!

 

Sucede-lhe outro herói — Batista Campos

Que levantava do seu verbo aos lampos

            Da justiça o clamor;

Cuja alma, que nos astros adejava,

Longe entrevia a luz, que já dourava

            Das terras o pendor!

 

Do despotismo a rígida vergasta

Tenta quebrá-lo, aos cárceres o arrasta

            Soldadesca coorte...

Mas do verdugo é rápido o sucesso;

Rompendo as malhas do brutal processo

            O herói surgiu mais forte!

 

Em vão, em vão, oh! pérfida serpente

Tentas nas roscas enlaçar o colo

            Da filha de Cabral;

Como a floresta do Equador, frondente

Faz-se a vergônteas neste virgem solo

            A árvore colossal!

 

Porém, cautela... O angelim possante

Resiste firme ao repelão dos ventos,

            E arrasta o furacão;

Mas se o verme roaz lhe ataca o cerne

O gigante das selvas cambaleia,

            E imenso alastra o chão.

 

Tal se as fibras de um povo lentamente

Corrói o vício e afoga-se-lhe a crença

            No gozo vil que o doma,

Mórbida vida arrastará na terra

E irá sumir-se em triste cataclismo:

            Tais foram Grécia e Roma!

 

Soprai as cinzas, despertai de novo

A moribunda luz n’alma do povo

            Que dormita a sonhar;

E quando aqui passar a mocidade,

O mártir precursor da liberdade

            Há de em Campos saudar!...

 




terça-feira, 18 de outubro de 2022

Biblioteca - Poema “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu

 

Hoje, dia 18 de outubro de 2022, faz 162 anos que morreu o jovem poeta fluminense Casimiro de Abreu, um dos poetas românticos mais conhecidos no Brasil, e, para marcar esta data, publico aqui, na íntegra, um de seus mais famosos poemas “Meus oito anos”. Para saber mais sobre a vida e a obra deste poeta, acessar os sites: https://www.ebiografia.com/casimiro_abreu/ e https://digital.bbm.usp.br/browse?type=author&value=Abreu%2C+Casimiro+de%2C+1839-1860

Jorge Domingues Lopes

 

MEUS OITO ANOS

 

Oh! Souvenirs! Printemps! Aurores!

V. Hugo.

 

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

 

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

— Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,

O mundo — um sonho dourado,

A vida — um hino d’amor!

 

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

 

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

 

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberto o peito,

— Pés descalços, braços nus

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

 

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave Marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

 

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

 

— Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

 

Lisboa — 1837.