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terça-feira, 18 de outubro de 2022

Biblioteca - Poema “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu

 

Hoje, dia 18 de outubro de 2022, faz 162 anos que morreu o jovem poeta fluminense Casimiro de Abreu, um dos poetas românticos mais conhecidos no Brasil, e, para marcar esta data, publico aqui, na íntegra, um de seus mais famosos poemas “Meus oito anos”. Para saber mais sobre a vida e a obra deste poeta, acessar os sites: https://www.ebiografia.com/casimiro_abreu/ e https://digital.bbm.usp.br/browse?type=author&value=Abreu%2C+Casimiro+de%2C+1839-1860

Jorge Domingues Lopes

 

MEUS OITO ANOS

 

Oh! Souvenirs! Printemps! Aurores!

V. Hugo.

 

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

 

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

— Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,

O mundo — um sonho dourado,

A vida — um hino d’amor!

 

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

 

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

 

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberto o peito,

— Pés descalços, braços nus

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

 

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave Marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

 

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

 

— Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

 

Lisboa — 1837.

 

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