No dia 15 de outubro, comemoramos, no Brasil, o dia do Professor, data lembrada nas escolas brasileiras como um momento de celebrar a figura de docentes que lutam dia a dia pela formação humana de alunos.
Todos nós que passamos pelos bancos escolares trazemos na memória lembranças de experiências que nos marcaram de diversas formas e, mais que isso, nos ajudaram a ser o que somos hoje.
Dos momentos que ainda pulsam na minha memória estão as experiências que tive nas aulas de português, principalmente nas atividades de leitura e escrita. Lembro-me de poemas que li e que acabei aprendendo de cor, como I-Juca-Pirama, do Gonçalves Dias, O livro e a América, de Castro Alves, o Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Moraes, e também me lembro de tantos fragmentos de narrativas, como Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, Lendas e mitos do Brasil, de Theobaldo Miranda Santos, A volta ao mundo em oitenta dias, de Júlio Verne, e tantos outros de que pontilhavam nos livros didáticos e nos livros que descobri, com a ajuda de várias professoras e professores, nas salas de aula, na biblioteca e na sala de leitura da escola.
Escritores não nascem prontos, aliás, antes de ser escritor, é preciso ser leitor assíduo, leitor cuidadoso, sensível com o objeto literário que chega às suas mãos. É necessário também ter a alma aberta para receber a novidade, o inusitado, o transcendental nascido da imaginação alheia, ser, enfim, leitor-autor-criador de mundos, já que a leitura não é nunca pura recepção passiva. A leitura, para existir, de fato, requer de nós uma postura autoral, uma postura tão ou mais criativa do que a que o produtor original do texto teve. Logo, precisamos ser AUTORES também no processo de leitura.
Na escola, é tão gratificante quando descobrimos professores que sabem da alquimia que a leitura proporciona e "semeiam livros, livros à mão cheia" e nos fazem pensar, nos fazem desafiar labirintos, atravessar desertos, nos pegam pelas mãos e caminham conosco pela estanteria sem fim, pelo espaço de mundos até então impossíveis. Mas chega o momento em que largam nossas mãos e nos apontam uma direção para iniciarmos nossa própria viagem rumo ao desconhecido, e, por mais que isso nos dê algum medo no início, não podemos retroceder, porque trazemos no corpo e na mente as experiências de leitura, de vivências reais e ficcionais que nossos professores nos levaram a ter pelo curto tempo com que os encontramos na escola, e isso é nossa bússola.
Ao lado das leituras, há a permanente escrita, muitas vezes reduzida, sim, a "exercícios de redação", sem objetivo maior para além do cumprimento da tarefa em si, e sem interesse de quem escreve. Sem dúvida, isso pode acontecer e acontece ainda com muita frequência. No entanto, nas últimas três décadas, muito se avançou na reflexão teórica e na prática docente sobre o papel da escrita na formação escolar e, sobretudo, o lugar da escrita na vivência social e estética. Escrita como forma de expressão linguística, de tradução de pensamentos em matéria compartilhável com outras pessoas, de uma necessidade humana de dizer o que pulsa em nós, o que nos move a querer fixar no mundo ideias, e transformar esse mundo. Professores que buscam motivar a escrita consequente e criativa em seus alunos iniciam, mesmo que não o saibam plenamente, a desenvolver uma nova mentalidade, uma mentalidade que faz uso da língua escrita, que motiva um querer chegar ao outro e dizer a ele o que se descobriu, ampliando as possibilidades, os mundos, solidariamente, amoravelmente.
Assim, muitas escritas nascem do encontro do escritor com o professor no espaço escolar e, mesmo que o ser escritor não tenha começado imediatamente sua produção nos anos de estudo formal, ele certamente acumulou escrivivências de leitura e escrita essenciais que o levariam a chegar a uma prática de escrita, a aprendizados contínuos. Por isso, saudamos, nesse dia tão especial, nossos mestres.
Jorge Domingues Lopes
15 de Outubro. Dia do Professor.
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